O objetivo desse trabalho é apresentar a institucionalização do doutorado em Ciências Matemáticas no Brasil, em meados do século XIX, tomando como referencial a carta de lei de criação da Academia Real Militar e os decretos de 1832, 1833, 1835, 1839, 1842 que alteraram o nome dessa escola e lhe deram novos estatutos ao longo dos anos. Ao iniciar a leitura dos documentos originais que tratam da instalação e das reformas da Academia Real Militar, notamos que uma das intenções de sua criação na cidade do Rio de Janeiro, no inicio do século XIX, era a de formar engenheiros militares com especial conhecimento matemático. Esperava-se destes engenheiros, que pudessem além de defender o País, fossem capazes de construir ruas, praças, pontes, administrar os gastos públicos, fazer orçamentos, construir mapas, abrir estradas, etc. Para garantir a formação desejada o então Ministro de Guerra elaborou os estatutos da Academia Real Militar adotando os mesmos livros didáticos que estavam sendo usados nas escolas Francesas, por constituírem os melhores da época para serem utilizados em escolas desse nível de ensino. Também estabeleceu que os professores dessa escola, deveriam escrever compêndios que tratassem das ciências pela qual era responsável, ressaltando a importância de os mesmos tomarem cuidado de irem adicionando aos seus compêndios as novas descobertas. Outro objetivo procurado desde a criação da Academia Real Militar era o de encontrar pessoas com habilidades em Matemática que pudessem ser inventores de ideias. Notando as dificuldades em formar engenheiros militares que também tivessem essa habilidade, no decreto nº 140 de 1842, cria-se o grau de doutor em Ciências Matemáticas no Brasil. Nessa época, para se tornar Doutor em Ciências Matemáticas no Brasil, foi exigido dos candidatos que tivessem sido aprovados no exame de seleção para o ingresso na escola, terem obtido aprovação plena em todas as disciplinas dos sete anos do curso completo, apresentarem uma tese sobre um assunto dos mais profundos das ciências ensinadas nos últimos três anos, apresentarem licença do diretor da escola e ter a tese aprovada por um dos professores da Escola Militar, o qual poderia ser escolhido pelo candidato e que não julgaria a tese pelo conteúdo, apenas reprovaria se houvesse algo que desonrasse ao Imperador ou a outra pessoa qualquer. Assim, em 1848 dá-se início as defesas das teses.